A morte sempre foi tema atual, porque sempre fez parte da vida, e o pensar nela pode dar mais qualidade à própria vida, aventura tão grandiosa e ao mesmo tempo tão frágil. Só por um triz, os nossos pais não falharam na nossa concepção e, depois de nascidos, quantos perigos internos e externos vamos enfrentando! Quantas vezes já não poderíamos ter morrido? A vida está presa por um fio! A morte ameaça-nos interna (uma doença grave) e externamente (um acidente). Mas na fragilidade da vida, refulge mais a sua grandeza. E na eminência da morte, a vida deve ser saboreada cada dia.
O morrer faz parte do desenvolvimento humano desde a sua mais tenra idade e acompanha o ser humano no seu ciclo vital, deixando suas marcas. Questões são constantemente formuladas: “De onde viemos e para onde vamos? Será a morte o final da existência, ou somente transição, o final do corpo físico, a libertação da alma? Haverá outras vidas? Será a alma imortal? O espírito se mantém tal como o conhecemos? Será a nossa existência um caminhar para a evolução de cada ser? Chegaremos à perfeição divina? Como preparar pessoas para esse fato tão presente na existência?”.
Considerando nossa existência terrena, quanto tempo viveremos e como será nossa vida? Teremos controle e poder sobre o nosso existir? Teremos o direito de saber sobre a nossa morte, como e quando será? Podemos nos preparar para esse momento? Estamos rodeados por um tecido cultural que determina, até certo ponto, como viveremos e como morreremos. Qual é o grau de liberdade, de ação, dentro desse tecido ou rede de valores, significados e representações? As perguntas continuam: por que pessoas jovens e saudáveis morrem rapidamente e pessoas idosas não o fazem? Por que pessoas adormecem e morrem no silêncio do sono, e outras lutam e se debatem até o último momento, com dores e sofrimentos atrozes? Por que pessoas se escondem da morte, não querem nem ouvir falar sobre o assunto? E por que outras riem, fazem piada sobre temas escatológicos? Por que tantos filmes sobre a morte, nos títulos ou na sua temática? Por que a morte exerce tanto fascínio sobre algumas pessoas, a ponto de seduzi-las? Por que é musa inspiradora de tantos: músicos, poetas, escritores, profissionais de saúde e educação?
Tantas perguntas têm assoberbado a humanidade durante os tempos. Respostas foram trazidas pelas religiões, ciências, artes, filosofias, entretanto, nenhuma delas é completa e universal. São incompletas, embora possam ser, para algumas pessoas, num dado tempo, o que buscam, oferecendo, mesmo que provisoriamente, um sentimento de totalidade.
O século XX assistiu à ascensão de uma medicina tecnológica e institucionalizada, capaz de prolongar a vida. Em decorrência deste avanço tecnológico e da disponibilidade de informação, a definição de morte vem sofrendo modificações que devem levar em conta os valores culturais da sociedade e não somente o conhecimento médico.
Ao refletirmos sobre tais questões, não podemos ignorar o fato de que não é a própria morte que desperta temor e terror, mas a imagem antecipada da morte, que hoje em dia vem revestida de isolamento, sofrimento e dor.
Colaboração: Psic. Solange C. B. Wiegand