Antes restrito às cremações, as cerimônias de despedida, conduzidas por profissionais capacitados, estão cada vez mais presentes nos velórios pelo Brasil.
Se a pandemia trouxe algum ensinamento, foi sobre a importância dos velórios e cerimônias de despedidas. Ter que encarar o doloroso processo de luto sem ao menos dizer adeus ao falecido, e ter um último momento antes do sepultamento, foi um dos momentos mais sombrios e traumatizantes do período em que enfrentamos a Covid-19. Muito mais do que um serviço, esta parte importante do atendimento funerário é um gesto profundo de respeito aos familiares enlutados, que acolhe e ajuda a amenizar a saudade que se inicia no coração daqueles que se despedem.
Neste contexto, os velórios têm ganhado cada vez mais atenção por parte das empresas funerárias, e já é possível dizer que, aquelas que simplesmente cumprem um cronograma de horários, traslado, montagem do velório e sepultamento ou cremação, sem oferecer à família alguma opção de homenagem, estão ficando para trás.
É sabido que cerimônias de despedida mais elaboradas começaram nos crematórios, que há muito tempo se preocupam em dar um sentido ao momento que antecede o envio da urna com o corpo falecido para a área de cremação propriamente dita, onde aguardará o momento certo de iniciar o processo. Mas hoje, as cerimônias estão sendo utilizadas em diversos momentos, mesmo quando há sepultamento, e nos mais variados formatos. E não é necessária uma grande estrutura para sua realização, mas principalmente criatividade e sensibilidade com a família atendida.
As cerimônias são possíveis quando há alguém que as elabore, que ajuda a família a organizar o momento, que busca informações relevantes sobre a história do falecido e seu credo religioso, que escolhe as músicas, leituras e palavras certas que serão utilizadas na despedida. Este profissional é o mestre de cerimônias fúnebres, que vem conquistando um espaço importante no atendimento funerário.
E como em todas as profissões, há sempre aqueles que foram os desbravadores, que iniciaram o trabalho quando ninguém nem imaginava que algo assim poderia ser feito, e que ditaram os padrões e rumos que a atividade iria tomar. Com o tempo e muito trabalho, alcançam o status de “professor”, devido ao seu grande conhecimento. E quando se fala em cerimônia de despedidas, surge um nome muito conhecido no setor, o do mestre Jonas Zanzini.
Natural de São Paulo, o professor Jonas, como é hoje conhecido pelo público funerário, iniciou sua carreira há mais de 25 anos, na cidade de Curitiba, a convite de um amigo empresário. Ele contou a sua história em uma entrevista à Rádio Funerária Web, e você confere os principais trechos a seguir:
Quem era Jonas Zanzini antes do setor funerário, e como foi esta jornada até se tornar o grande mestre dos cerimoniais?
Em São Paulo, eu trabalhava no ramo alimentício. Minha família tinha um restaurante e sempre me dediquei ao negócio. Por uma obra do destino, vim para Curitiba a convite de um amigo para ser gerente de vendas de um cemitério. Interessante que eu tinha até medo de defunto, acredite se quiser. Então eu fui bater na porta de todas as funerárias da região, para que elas fossem nossas revendedoras dos jazigos.
Pois é na funerária que o principal atendimento acontece. Primeiro eles vendem os artigos necessário para o velório, e ai vem a segunda pergunta: “Vai cremar ou sepultar? Ah vai sepultar? E a família já tem um jazigo?”. E então eles ofereciam ali várias opções, e o meu também. Então eu ia até a funerária para atender a família, e foi aí que eu comecei a entender o setor funerário e o que é um atendimento funerário.
Passou um tempo, me desliguei do cemitério e fui trabalhar em um crematório, onde fui gerente de vendas e do plano funeral, ou seja, não tinha nada a ver ainda com cerimonial. O que aconteceu? Eu fui fazer alguns sepultamentos, pois eu queria entender, queria aprender. E assistindo os sepultamentos comecei a sentir que faltava alguma coisa, faltava um temperinho, uma palavra a mais de conforto. Dentro da linha religiosa, os padres os pastores, eles fazem aquilo é necessário para confortar a família, mas eu sentia que eles se esqueciam da pessoa mais importante, que naquele momento é o falecido, que ficava em segundo plano. Foi aí que tive algumas ideias, e comecei a dar uns pequenos passos.
Se eu visse hoje, uma cerimônia que fiz há 20 anos, certamente ficaria com vergonha. Mas eu não tinha uma referência pra que eu pudesse falar “esse é o caminho”. Talvez muitos não vão lembrar, mas tinha um programa há uns 40 anos, do apresentador J. Silvestre, que era fantástico. Ele convidava uma pessoa famosa e falava assim: “Agora você está aqui porque esta é sua vida”. Então eu peguei esse gancho, eu introduzi na cerimônia e foi quando começou a deslanchar. O mundo é grande e pequeno ao mesmo tempo.
E o que é uma cerimônia de despedida? É diferente do velório, ou todo velório é uma cerimônia de despedida?
Ótima pergunta. Na realidade, todo velório não deixa de ser uma cerimônia. O que aconteceu dentro desses anos todos, é que os velórios foram ficando mais emotivos, começaram a falar mais do falecido, enobrecer o falecido. É como eu disse, a cerimônia religiosa é aquele conteúdo que o padre ou pastor dirige à família. O cerimonialista pode fazer a parte religiosa, desde que tenha conhecimento, mas valorizando o falecido, e com isso levar um conforto diferente pra família, que sai dali mais suave. A única ressalva que vou fazer aqui, é que nós temos que tomar alguns cuidados. Eu não posso ser um mestre cerimonialista que quer aparecer mais que o falecido.
Você pode fazer o que quiser, mas tem que fazer o que é pra ser feito, se não você começa a cometer algumas gafes. As cerimônias se modificaram muito. Hoje você pode cantar, tocar um instrumento, isso não é mal nenhum. Você só não pode deixar de fazer o que é pra ser feito, que é homenagear a pessoa que está ali, e a família que esta ali enlutada.
O que não pode faltar em uma cerimônia fúnebre?
O cerimonialista tem que ter conhecimento, tato, ser uma pessoa sensível, falar com respeito, com sutileza e também com dignidade sobre o ente que está partindo. São elementos que não podem faltar. Me perdoe, mas muitas pessoas que se aventuram sem conhecimento, acabam perdendo o foco. Eu chamo de “fanfarrões”, e isso não é bom, porque qualquer falha do setor funerário acaba virando notícia nacional.
Tudo que se refere a funerária, crematório, cemitério, IML, dá ibope. Em uma cerimônia, se a pessoa perde o foco, e houver alguma crítica da família que acaba caindo nas redes sociais, torna-se um problema. Temos que tomar muito cuidado. A crítica é boa, quando é uma crítica construtiva. Então o que não pode faltar? É amor, respeito, deixar ali uma palavra de conforto pra família, e não querer ser um “show man”.
Para as empresas que ainda não utilizam esta ferramenta de fidelização, que é a cerimônia de despedida, qual o recado que você deixa para os empresários?
Eu tenho viajado muito e tenho aprendido muito também. O dia que eu falar que já sei tudo, eu tenho que voltar atrás e começar de novo. Não é fácil chegar até o empresário e passar pra ele uma nova forma de atendimento. Mas o fato é que as cerimônias de despedida estão revolucionando o mercado funerário. Tem empresas que são enormes, fantásticas, mas às vezes o empresário é conservador, ele não aceita.
Então, senhores empresários, deixo o meu recado. Não adianta você investir em salas de velório lindas, se você não tiver preparado os seus colaboradores pra fazer um atendimento humanizado. Quando as pessoas estiverem lá, com seus entes queridos, elas precisam ser confortadas, com dignidade. O seu maior patrimônio não é sala de cerimônia, isso faz parte, mas é o seu colaborador bem preparado.
As palavras, o tom de voz, o olhar, o andar, tudo faz parte da cerimônia. E a cerimônia faz parte do funeral, ou seja, o que nós vamos fazer é contar a história do falecido, simplesmente isso, é a cereja do bolo de qualquer atendimento. Então empresários, me perdoem, mas tem que investir, tem que estar aberto pra isto, não pode ficar ali no seu mundinho porque senão as outras empresas vão passar que nem um rolo compressor. Por que o cliente faz um plano funeral? Isso eu já presenciei muitas vezes. Eles fazem o plano pela homenagem que foi feita para o tio, tia, pro amigo, e outros familiares. Esse é o grande diferencial hoje, que fideliza o cliente na sua empresa.
Serviço
Saiba mais sobre o trabalho do professor Jonas Zanzini em www.jonaszanzini.com.br. Esta entrevista você pode ouvir na íntegra pelo PodCast da Rádio Funerária Web, clicando aqui!