O jeito com que falamos sobre a morte, e explicamos esse processo para as crianças, é normalmente baseado em nossas próprias crenças e entendimentos. Se compreender este fato da vida já é uma tarefa difícil para nós, adultos, imagine para as crianças.
Com todos os meus anos de trabalho no ramo funerário, aprendi que ser questionado pela criança sobre a morte é uma dádiva: só perguntamos sobre aquilo que estamos preparados para debater. Por isso, ao falar com a criança sobre a morte, um bom começo é descobrir o que ela pensa sobre isso. É surpreendente ver a percepção que elas já possuem!
A morte está nos desenhos, livros e filmes infantis, nos noticiários e nas conversas dos adultos. Muitas já vivenciaram a perda de um peixinho, um gato ou um cachorro. Trabalhar com os pequenos a morte dos bichos de estimação, das plantas e dos insetos de forma realista ajudará na compreensão do que é o falecimento e da sequência da natureza.
Quanto menor é a criança, mais ela acredita que a morte é reversível, como acontece em alguns desenhos animados em que o personagem se levanta com curativos após um acidente fatal. Durante conversas como essas, é recomendável estar aberto e oferecer carinho para que os pequenos sintam-se seguros. Também é indicado manter um vocabulário simples, de forma que a criança entenda. Nessa conversa também podem surgir muitas perguntas que você não saberá as respostas. Não tenha medo de dizer que não sabe. Muitas vezes isso é melhor do que criar fantasias e confundir a criança.
Criar mentiras também pode parecer mais fácil, mas não deve ser incentivado. Falar que a pessoa falecida foi viajar, por exemplo, cria a expectativa da volta e faz a criança pensar que a pessoa se esqueceu dela, pois não voltou mais. Também pode gerar ansiedade extrema sempre que alguém da família for fazer uma viagem. Comparar a morte com um sono profundo, ou com o ato de “dormir”, pode causar transtornos também. A verdade sempre é a melhor opção.
Levar a criança ao velório ou ao cemitério não é errado. As crianças são membros da família e têm direito de participar desse momento para esclarecer suas dúvidas e fantasias. Participar das etapas faz com que elas se sintam importantes. As visitas ao cemitério ou à sala de memórias são boas aberturas para elas exporem o que sentem. Em momentos de luto as crianças vêem os adultos tristes, muitas vezes chorando, e explicar que esse sentimento é normal faz com que elas também possam desabafar.
Independente da sua convicção e religião, lembre-se sempre que a preocupação e o amor caminham juntos. Converse, escute, acalme e deixe que a criança possa vivenciar esse momento junto da família, compreendendo os fatos e entendendo o momento de acordo com o que ela tem capacidade para entender.
Por Mylena Cooper, diretora do Crematorium Vaticano.