Houve uma época em que a morte era considerada natural, quando se morria em casa, na presença de amigos e familiares. Entretanto, com o passar do tempo isso foi mudando e a morte passou a ser considerada invertida, ou seja, escondida e no hospital. Deixou de ser vista como um fenômeno natural para ser um fracasso.
Até pouco tempo atrás a morte era considerada um tema tabu, complicado de ser discutido. Dificilmente, alguém pensava sobre a sua própria morte, a negava, como se ela só existisse na casa dos outros. Hoje, o cenário mudou devido à pandemia, provocada pelo novo coronavírus, e se fala mais abertamente sobre ela, uma vez que, começou a fazer parte da vida de muitas famílias.
O luto ocorre quando acontece uma perda significativa em nossas vidas. Seja uma perda real (um parente, um amigo, um conhecido) ou uma perda simbólica. E em tempos de pandemia pelo novo coronavírus, muitas perdas simbólicas estão ocorrendo, devido ao isolamento social: passeios no parque, nos finais de semana; compras no supermercado; atividades físicas ao ar livre, entre outras.
Nesse momento, muitos gostariam de saber o que fazer para que haja elaboração do seu luto? No entanto, não existe uma receita pronta para isso, pois o luto é um processo individual e singular, onde cada um tem o seu próprio modo de se enlutar. Todavia, importante frisar, que se trabalhe para que lá na frente o mesmo não se transforme em um luto complicado, com necessidade de ajuda especializada.
Vive-se uma espécie de luto coletivo, com o avançar do numero de mortes devido ao novo coronavírus. E neste momento, o ritual de despedida está sendo negado, devido à contaminação. No entanto, realizar o ritual de despedida é muito importante para que a perda seja validada, propiciando a elaboração do luto. O importante é que haja algum tipo de despedida, mesmo que seja simbólica, para que o luto não evolua para um luto complicado.
Buscam-se alternativas para isso: vídeo chamadas com familiares e amigos do ente querido que se foi; missas online pela intenção da alma daquele que já partiu, são alguns exemplos. Quando possível, contatar com a empresa funerária para que o carro fúnebre passe pela rua, onde o falecido morava, para que seus familiares possam se despedir, ao menos de longe.
Isso conforta aqueles que ficam, no sentido de que estão fazendo alguma coisa por aquele que não está mais aqui. Lembrando ainda que, o ritual religioso pode servir como uma espécie de prevenção ao luto complicado.
E alguns perguntarão: Quando o processo do luto termina? Costumo dizer que, quando se lembra daquele que partiu com uma saudade gostosa e não mais dolorosa. Quando quem ficou, investe em novas relações e projetos.
Até agora, foi falado de quem fica, porém, quem parte também pode se enlutar pela sua própria doença. E quando falo do paciente, importante dizer que, muitas pessoas não tem medo da morte, mas sim do modo como ela poderá acontecer.
A pesquisa nos mostra que a maior angústia do ser humano é o medo de ser esquecido, após a sua partida. Recomenda-se, portanto, que lembrar-se dos aspectos positivos da relação e do amor envolvido com quem partiu, deva se sobrepor aos sentimentos e lembranças negativas dos últimos momentos vividos.
Para ninguém a vida será a mesma depois da pandemia provocada pelo novo coronavírus, contudo, a resiliência fará parte desse novo normal.
Colaboração: Solange Wiegand | Psicóloga . CRP 3266/08
*Sobre a autora: SOLANGE DO CARMO BOWONIUK WIEGAND – Psicóloga, Doutoranda em Teologia, Mestre em Bioética pelo PPG Bioética PUCPR. Professora e coordenadora do Curso de Extensão Falando sobre Perdas e Lutos da Universidade Positivo. Professora convidada do Curso de Especialização em Cuidados Paliativos da PUC PR. Professora convidada da Faculdades Pequeno Príncipe. Coordenou Grupo de Apoio a Enlutados e foi psicóloga voluntária na Associação dos Funcionários Aposentados do Banestado (AFAB). Membro do Grupo de Pesquisa em Bioética, Cuidados em Humanização e Saúde; Grupo de Pesquisa em Bioética, Saúde Pública Global e Direitos Humanos; Grupo de Pesquisa Espiritualidade e Saúde, todos da PUCPR-CNPq. Atua na área de Tanatologia há mais de 20 anos com cursos, palestras, seminários, com coautoria em livros e publicação de artigos.