Cemitério tem cachorrinho que auxilia em velórios

Jung é filho de Freud e tem a missão de continuar o trabalho do pai: colocar um sorriso no rosto dos que passam pelos velórios do Memorial Metrópole Ecumênica de Santos – um prédio de 14 andares que lhe dá o título do mais alto cemitério do mundo. Freud morreu em outubro, aos 11 anos, e ganhou esse nome por causa da barbicha de sua raça, schnauzer. Além do cemitério, Jung e seu irmão Teddy, também frequentam hospitais – adulto e infantil, casas de repouso, eventos para crianças autistas e com paralisia cerebral, creches, escolas e casas de reabilitação.

Freud foi o pioneiro da Dr. Auau, que coloca em prática, há 11 anos, a chamada zooterapia – “uma terapia focada em como usar animais para uma interação positiva com os homens”, comenta sua fundadora Victoria Girardelli, jornalista. Victoria teve essa ideia a partir de um momento pessoal – o acolhimento de Freud durante o processo de cura de um câncer. A presença do animal foi tão importante que a fez pensar em como compartilhar essa experiência. “Ele foi fundamental, me fez companhia, me deu forças, e eu pensei: não quero que ele seja só meu”. Passou a levar Freud para uma república de idosos e a hospitais infantis. Victoria diz que a presença do cachorrinho nesse tipo de ambiente é positivo porque motiva a criança a sair do leito, a andar pelo corredor, a pegar o animal no colo, o que ajuda no intestino, contribuindo para a alta.

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Há cerca de um ano, Freud passou a frequentar o Memorial Metrópole Ecumênica de Santos e, segundo sua dona, foi o primeiro cão do mundo a fazer esse tipo de trabalho no ambiente de luto. Com um colete azul de bolsos para levar mensagens de conforto, Freud (e agora Jung) passou a visitar velórios e agradar aqueles com quem interage. “Nesse momento de afago e carinho, você já consegue mexer com os hormônios ocitocina e endorfina, que trazem prazer”, comenta Victoria.

Ela diz que a aceitação é 100% e não há reclamações. O serviço é gratuito e normalmente o cachorro fica na parte externa do velório. Mas se for requisitado, entra na sala. Às vezes, o parente leva o cachorro para ‘apresentá-lo’ ao morto. “Tem gente que pega no colo, leva para o falecido, conversa, tira um cartão e lê em voz alta. E dizem ‘nossa, era isso que eu precisava ouvir agora’. ” Para Victoria, a morte é única certeza que a gente tem, mas é uma dor sem medidas e muito pessoal – “cada um passa de uma forma, cada um tem a sua leitura, o seu tempo”. Por isso, esse tipo de carinho num momento de fragilidade é sutil e bastante positivo. “Encontrei minha missão e não largo o osso”, comenta.

Fonte: Camila Appel – mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br