Psicóloga do Grupo Morada discute como lidar com a perda de pai ou mãe

Para Beatriz Mendes, “seguir em frente não significa esquecer, mas integrar essa pessoa em nossa vida de um outro modo”

O Brasil identificou a primeira contaminação pelo novo coronavírus no fim de fevereiro de 2020. Cerca de um ano e meio depois, o país já ultrapassa a marca de 600 mil mortes em decorrência do vírus, sendo, portanto, incalculável o número de pais e filhos afetados por essas perdas. Segundo Beatriz Mendes, psicóloga especialista em luto do Grupo Morada, há maneiras de prosseguir sem esse porto seguro, sem esquecer alguém tão especial. “Não esquecemos quem amamos, quem marca a nossa história. Seguir em frente não significa esquecer, mas integrar essa pessoa em nossa vida de um outro modo”, enfatiza.

“Integralizamos a ideia de que quem amamos não existe mais presente fisicamente, mas ela segue em nossa história, nas nossas memórias e em tudo o que somos. Honrar isso é importante e pode nos ajudar a seguir em frente”, continua a psicóloga.

O Brasil tem um órfão por covid-19 a cada cinco minutos, segundo pesquisa publicada no periódico The Lancet, em que cientistas estimam que mais de 1,5 milhão de crianças perderam pelo menos um dos pais, avós ou outro responsável devido à covid-19. O número gera preocupação entre especialistas, os quais associam a perda a um maior risco de efeitos sobre a saúde, segurança e bem-estar. O estudo revela que o Brasil é o segundo país mais afetado pelo problema.

Seguir em frente

Superar a morte de um pai ou mãe não se revela fácil, pois trata-se de uma figura afetiva essencial para o nosso crescimento e desenvolvimento como adultos sadios e cidadãos. Beatriz Mendes comenta que a ideia de superar é “complicada”, pois o luto não é um obstáculo que, após superado, deixa de existir.

“A perda é uma vivência que marca nossa biografia para sempre, e a forma de olhar para essa marca pode se transformar ao longo do tempo. Diante de uma perda, somos convocados a atribuir significados. Somos lançados, também, em um processo de readaptação ao mundo e à nossa própria vida. A forma de lidar com isso será variada, e será fundamental haver apoio e suporte das pessoas que são significativas, além de respeito ao próprio sentir, ao próprio processo”, explica.

Lembrança

A morte do ator, humorista e diretor Paulo Gustavo, em maio de 2021, por complicações da covid-19, foi uma das mais comoventes do país. Ele tinha 42 anos e deixou dois filhos de, à época, 1 ano de idade, Romeu e Gael, cuja criação é, hoje, dividida com a mãe de Paulo, dona Déa Lúcia, segundo Thales Bretas, viúvo do artista. O dermatologista disse que tenta manter viva a memória do marido dentro de casa, relembrando a trajetória e realizações de Paulo para que os filhos cresçam com a imagem do pai.

“Toda obra do Paulo está eternizada e o amor por ela está dentro da gente. Quero que os meninos [filhos] cresçam cientes de tudo isso. Sempre mostro coisas para eles. Meu plano é evidenciar para meus filhos o orgulho que temos do Paulo. Ele é importante para o Brasil, para a história do movimento gay e vai para sempre ser importante”, declarou.

A psicóloga Beatriz Mendes frisa que o luto não tem prazo de validade. Assim, cada um vai vivê-lo de um jeito singular, sendo o sofrimento imensurável. “Não podemos comparar dores, assim como vínculos. Cada qual sabe da história vivida e tem um modo de se articular com a sua dor, o seu luto. Não somos pessoas ruins por não atendermos a uma demanda social de modos de viver o luto”, ressalta Beatriz.

Para ela, a forma de lidar será compatível com os recursos de enfrentamento de cada um, pois o luto é um processo natural, capaz de modificar os caminhos da nossa vida. “Entender que não precisamos passar por isso sozinhos pode ser uma forma de lidar de modo mais salutar. Apesar disso, é preciso lembrar que, diante de uma dificuldade significativa de retornar a uma rearticulação com a vida, é importante ponderar sobre a possibilidade de pedir ajuda a um profissional”, conclui.

Turma do Vilinha

Falar sobre a morte ainda é um grande tabu entre as pessoas, e quando se trata de conversar sobre a perda com as crianças, a dificuldade se amplia, pois, para muitos familiares, a criança deve ser mantida o mais distante possível dessa realidade. Porém, falar com os pequenos sobre a perda é algo estritamente importante e necessário para prepará-los melhor para os diversos momentos de perda que eles irão vivenciar na vida.

Por isso, o Morada da Paz oferece o projeto “Turma do Vilinha”, uma iniciativa que tem o objetivo de oferecer informações aos adultos e desmitificar o debate a respeito do luto infantil.

O projeto retrata a história do garoto Vilinha, que vivencia um momento de transição com a sua amiguinha, a lagarta Lalá, e, com isso, passa a conversar com seus amiguinhos sobre o processo de luto, de forma leve e dinâmica.

O projeto contém um livro sobre a história do Vilinha, jogos educativos, vídeos e cartilhas que irão se aprofundar nas estórias dos outros personagens. Todo o material está disponibilizado gratuitamente no site www.turmadovilinha.com.br.

Iniciativa

O Governo do Rio Grande do Norte sancionou a lei que criou, neste mês, o RN Acolhe, Programa Estadual de Proteção às crianças e aos adolescentes órfãos de vítimas da pandemia.

A iniciativa, trazida pelo Programa Nordeste Acolhe, que faz parte do Consórcio Nordeste, saiu na frente em relação à sugestão dada na CPI da Covid para indenizar crianças e adolescentes órfãos de vítimas da covid-19. Além do RN, outros dois estados nordestinos já liberaram o auxílio.

A partir de fevereiro, 66 crianças devem receber o benefício, em 33 municípios do estado. O valor mensal será de R$ 500, entregue a cada órfão, até que ele complete 18 anos.

Fonte: Ideia Comunicação | www.ideia.jor.br

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