“É indispensável ao mestre de cerimônias, ter muita sensibilidade para fazer uma escolha musical assertiva, levando sempre em consideração o momento e o estado de espírito da família.”
Quando criança, tive o privilégio de ser criado muito envolvido com a música, literalmente de todos os lados. Meu pai trabalhava no ramo fonográfico, minha mãe tocava piano e entre meus cinco irmãos tinha alguns músicos e musicistas.
O que mais me fascinava era poder ir à loja de discos do meu pai, que ficava no centro da cidade de São Paulo, onde na década de 80, tinha um comércio pujante com inúmeras lojas do ramo, e apreciar as novidades musicais que chegavam todos os dias das gravadoras.
Nesses mais de 15 anos, realizando atendimento a famílias enlutadas, sempre me deu muita satisfação “produzir” homenagens de despedidas, seja em cerimônias de sepultamento, cremação ou entrega de cinzas, principalmente na escolha da trilha sonora. Eventos fúnebres com música são únicos, e tornam-se inesquecíveis.
Fui presenteado há alguns anos, em um velório de um senhor músico, que inclusive tinha discos gravados, onde para homenageá-lo, seus amigos músicos montaram uma verdadeira orquestra dentro de uma ampla sala de velórios.
Naquele dia o naipe de instrumentos estava completo, tinha teclado, violão, trompete, saxofone, bateria, contrabaixo entre outros e eu me deliciava com o vasto repertório que ia desde Frank Sinatra à Patativa do Assaré e, se dependesse de mim, aquele velório poderia facilmente ser prolongado, me sentia como se estivesse flutuando.
Na produção de uma homenagem de despedidas, considero duas possibilidades para as músicas que serão tocadas: aquela em que os familiares informam a religião da pessoa falecida e deixam a livre escolha de alguma música; e aquela em que os familiares solicitam que uma ou mais músicas que a pessoa falecida gostava seja reproduzida.
É bom ressaltar que é indispensável ao mestre de cerimônias, ter muita sensibilidade para fazer uma escolha musical assertiva, levando sempre em consideração o momento e o estado de espírito da família. É claro que é um grande desafio fazer com que os familiares consigam entender que nesse momento o importante é transformar lamentação em homenagem, e quando conseguimos fazê-los entender essa proposta, com certeza estamos à um passo de transformar esse evento em algo inesquecível, tanto para os familiares quanto para nós que participamos desse momento único.
Agradáveis surpresas acontecem quando a família indica alguma música que gostariam que fosse executada na cerimônia, e que até então para mim era desconhecida. Em um velório, onde o falecido era holandês, os familiares escolheram a música “André Hazes – Ik Leef Mijn Eigen Leven”. Achei linda.
As 10 músicas mais escolhidas
No topo da playlist dos funerais existem alguns clássicos que fizeram muito sucesso em gerações passadas, mas também tem músicas mais atuais com letras e harmonias que tocam o coração e a alma. Sendo assim, fiz questão de enumerar as 10 músicas que mais executei em velórios nos últimos 15 anos (box ao lado).
A diferenciação das versões vai depender de como o Cerimonialista analisa o sentimento da família no velório, pois algumas versões possuem arranjos musicais mais agitados, já outros mais suaves. É claro que além dessas músicas existem muitas outras que cabem para a ocasião, inclusive músicas mais recentes como a do cantor Mc Gui, que compôs “Sua história” em homenagem ao seu irmão que falecera recentemente.
E para nós, que preparamos essas cerimônias de despedidas e escolhemos a trilha sonora dos velórios, é inevitável pensar no dia de nossa partida. E você, já escolheu a sua trilha sonora de despedida?
Artigo publicado na Revista Funerária em Foco, edição 21.
conciergefunerario@gmail.com